Jaguaribe e Ipitanga: Subsídios para gestão ambiental de bacias hidrográficas
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Domínios Geoambientais

Zoneamento Geoambiental

Na escala deste trabalho, as respostas diferenciadas que os terrenos apresentam ao uso e ocupação são coincidentes com as divisões geotectônicas da região. Tais divisões foram utilizadas como critérios para inicialmente compartimentar a área em 5 Domínios Geoambientais, estabelecidos de uma forma que representam a ordem cronológica dos ambientes tectônicos que se sucedem ao longo da história geológica da região. Dessa forma, dos terrenos geológicos mais novos para os mais antigos, foram diferenciados os seguintes domínios geambientais:

  • Domínio 1: corresponde aos sedimentos quaternários fluviais e lagunares e às planícies de inundação sustentadas por sedimentos relacionados ao atual ciclo de erosão;
  • Domínio 2: corresponde aos depósitos de dunas com morfologia nítida, representado por formas eólicas bem definidas;
  • Domínio 3: compreende os depósitos formados por areias litorâneas de idade quaternária;
  • Domínio 4: compreende os sedimentos terciários correlacionados à Formação Barreiras;
  • Domínio 5: compreende as rochas granito-gnaisse-migmatíticas proterozóicas e arqueanas.

Uma vez identificados os domínios geoambientais em razão das particularidades da geologia, foram analisadas também as importantes variações de relevo, com expressão em área mapeável na escala de trabalho. Com o auxílio do mapa de drenagem e considerando-se um conjunto de particularidades do relevo e da drenagem, os domínios foram caracterizados.

Mapa dos domínios geoambientais.

Caracterização geoambiental dos domínios

Domínio 1: como domínio 1 foram diferenciadas as planícies aluviais, ou seja, as áreas planas ou quase planas que margeiam os rios, as várzeas e os depósitos flúvio-lagunares.

As planícies aluviais são os terrenos geologicamente mais novos da região. Nelas se depositaram e estão se depositando os sedimentos que erodiram e estão sendo erodidos no atual ciclo de erosão e para elas são transportadas das áreas altas circunvizinhas pelos rios e enxurradas. São sustentadas por um empilhamento com sucessão de camadas constituídas de argilas, quase sempre ricas em matéria orgânica, por areias de granulometrias e composição mineral variadas.

Na área de estudo, os depósitos de areias aluvionares não são muito expressivos, pois os principais rios, dentre eles o Joanes, Ipitanga e Jaguaribe apresentam aluviões poucos espessos.

São áreas de relevo baixo, plano ou quase plano, com declividade variando de 0 a no máximo 5%.

Esse domínio é representado também por depósito flúvio-lagunares que são constituídos por areias e siltes argilosos, que vêm sendo formados desde o início da última transgressão marinha até o tempo presente.

Por uma série de razões, as planícies aluviais são os ambientes que mais merecem cuidados especiais nas decisões de planejamento e gestão ambiental. Fato que, na maior parte das vezes não é levado em conta nas decisões de uso e ocupação do solo. O resultado disso se traduz numa série de problemas ambientais, perdas de vidas e no desperdício de muito dinheiro gasto com obras recuperativas, as quais, na maior parte das vezes, ou são insuficientes ou então, ao invés de resolverem os problemas, geram outros maiores.

Curioso é constar que por mais que se tenha conhecimento disso as áreas continuam sendo ocupadas. Via de regra, são invadidas por população de baixa renda, criando uma série de dificuldades para o poder público, que acaba tendo que dotá-las de infra-estrutura urbana, que, como pode ser visto a seguir, é bastante complicado de se fazer nestas áreas.

Isso acontece por falta de planos preventivos, porque tanto a sociedade como quem planeja e administra o território geralmente não tem conhecimento sobre a importância e a fragilidade ambiental que as várzeas apresentam. (Theodorovicz, et al., 2007).

No caso das bacias hidrográficas do Ipitanga e Jaguaribe a situação não é muito diferente dessa, devido à intensa ocupação urbana observada.

Do ponto de vista de extração desse material para uso na construção civil, não são muito recomendados, pois são areias muito finas e mal selecionadas.

Do ponto de vista agrícola as implicações são tanto positivas quanto negativas, destacando-se que:

  • predominam solos argilosos que devem manter boa disponibilidade de água para as plantas por um longo tempo nos períodos mais secos e se adubados devem reter bem os nutrientes. Apresentam baixo potencial de erosão hídrica e pelas características topográficas são favoráveis ao uso de equipamentos motorizados e de mecanização.
  • por serem derivados de sedimentos pobres em minerais que liberam nutrientes e ricos em minerais que liberam bastante alumínio, os solos devem apresentar baixa fertilidade natural e devem ser bastante ácidos.
  • nas áreas de relevo mais plano, devido à diferença de permeabilidade entre as camadas superiores do solo e os horizontes inferiores, muito pouco permeáveis, durante o período de chuvas, a camada agrícola pode encharcar excessivamente, o que causaria o apodrecimento das plantas.

Do ponto de vista geotécnico são terrenos onde os potenciais erosivos e de movimentos naturais de massas variam bastante.

Domínio 2: correspondem aos depósitos de dunas que ocorrem ao longo da costa, na porção sudeste da área, representada por depósitos de areias finas, bem selecionadas, dominantemente quartzosas, com graus de arredondamento variados, com boa esfericidade, de coloração branca, ocre e amarelada. As dunas são representadas por forma eólicas mais definidas, com alta densidade na área.

O relevo apresenta-se plano, a suave ondulado, declividades variando de 0% a 8% e as cotas topográficas estão entre 10 e 30 m.

Parte das dunas encontra-se com a morfologia modificada, seja por erosão natural, seja pela ação antrópica relacionada à ocupação urbana e turística e pela exploração das areias como material para construção civil, o que é identificado através da redução de altura, modificação dos ângulos de inclinação de barlavento e sotavento, presença de ravinas, cortes e cicatrizes de retirada de vegetação de cobertura.

Os depósitos de dunas litorâneas são explorados para a retirada de areia e apresentam como características positivas um volume expressivo de reservas e a proximidade com os centros consumidores. Do ponto de vista negativo para a sua utilização na fabricação de concretos, é uma areia muito fina e possuem salinidade e acidez elevadas. Sobrepujando as características técnicas adversas para a utilização desse potencial, ressalta-se a degradação ambiental das dunas como principal fator impeditivo ao aproveitamento dessas dunas.

Trata-se de ambiente com paisagem e beleza cênica e ainda, as dunas têm papel fundamental na estabilidade da costa, evitando a erosão e o avanço da linha de costa, o que traz diversos prejuízos econômicos por tratar-se área densamente ocupada por empreendimentos imobiliários e turísticos

Ressalta-se também que a exploração em área de preservação ambiental, apesar de permitida pela legislação, deveria ser mais controlada para evitar a perda dos ambientes das dunas litorâneas, o que vem sendo observado nesta região.

Domínio 3: caracteriza-se por depósitos formados por areias litorâneas, bem selecionadas, com presença de conchas marinhas. Na parte superior desses terraços existem cristas e cordões litorâneos notavelmente bem desenvolvidos, situando-se a mais de 4 metros acima do nível do mar.

O relevo apresenta-se plano, com declividade variando de 0 a 3%, praticamente relacionado ao nível de base atual.

É o domínio com menor representatividade em área, encontrado numa faixa na porção sudeste da área de estudo, na região da APA de Abaeté.

Devido à pouca expressividade areal este domínio não tem muita influência nas características ambientais regionais das bacias hidrográficas. Localmente, destaca-se o fato de que, em conjunto com as planícies aluviais são os relevos mais suavizados da área estudada, constituindo-se em belas paisagens. As características ambientais indicam que estas áreas deveriam ser preservadas da ocupação urbana e turística desenfreadas, semelhantes às das dunas.

Domínio 4: este domínio é representado por terrenos sustentados por sedimentos correlacionados à Formação Barreiras. Destaca-se sua presença na porção norte e oeste das bacias hidrográficas, destacando-se por apresentar um adensamento populacional crescente.

O substrato desse domínio se diferencia por ser sustentado por um pacote de espessas camadas de sedimentos argilosos e siltosos.

A Formação Barreiras engloba quase a totalidade dos sedimentos terciários em território baiano e cobre extensa área da RMS (Barbosa & Dominguez, 1996). Ela é composta de uma seqüência de sedimentos terrígenos, pouco consolidados ou inconsolidados, de cores variadas, consistindo de argilas, areias e cascalhos, com estratificação irregular, normalmente indistinta e, em geral, afossilífera.

Segundo vários autores, a Formação Barreiras seria produto da coalescências de leques aluviais e de sistemas fluviais entrelaçados, com clima quente e seco (Mabesoone, Campos e Silva, Beurlen, 1972; Bigarella, 1975, in Lima, et al. 2006). No litoral sul da Bahia, a observação de arenitos maciços constituídos de grãos angulosos e mal selecionados, alguns com faces cristalinas e a presença de feldspatos nos sedimentos, sugerem em princípio, transporte e deposição rápidos, com retrabalhamento limitado, como em fluxo de detritos ou de lama.

Lima et al. 2006 descrevem a associação de litofácies e os aspectos estruturais da Formação Barreiras no sul da Bahia, e identificaram o caráter tipicamente fluvial, de canais entrelaçados desta formação na região. Canais entrelaçados bem desenvolvidos, com rios maiores compõem o ambiente principal de transporte e deposição durante as fases intermediária e final de sedimentação. Salientam ainda que a análise da drenagem revela a existência de blocos estruturais limitados por grandes zonas de falhas e basculados em diferentes direções. Os autores descrevem 12 litofácies da Formação Barreiras no litoral sul da Bahia, das quais podem ser identificadas na área de estudo os Arenitos maciços conglomeráticos (Amc) composta por duas unidades diferenciadas pela composição mineralógica: conglomeráticos e arcosianos. Ambas possuem matriz lamosa e contêm grânulos e pequenos seixos, os grãos são mal selecionados e variam de subangulosos a angulosos e, mais raramente, subarredondados, possuindo em muitos locais cimentação silicosa. Os arenitos conglomeráticos arcosianos são semelhantes aos quartzosos, exceto pela presença de feldspato que podem atingir 40% do total dos grãos. Do ponto de vista estratigráfico, os arenitos arcosianos ocorrem sempre abaixo dos arenitos conglomeráticos quartzosos.

Ocorre ainda a litofácie representada pelos Arenitos maciços lamosos (Aml), os quais possuem granulometria fina a grossa, com grãos subarredondados a arredondados. Apresenta abundante matriz caulinítica. As camadas são tabulares e apresentam 0,5 a 1,2 m de espessura.

Domínio 5: rochas granito-gnaisse-migmatíticas proterozóicas e arqueanas do Complexo Cristalino constituem este domínio geoambiental. O embasamento das bacias do Jaguaribe e do Ipitanga é representado por diversas litologias. Consiste de granulitos monzoníticos e monzodioríticos nas porções sul e. Estas rochas afloram melhor na orla marítima de Salvador. Na porção central da bacia ocorrem predominantemente granulitos tonalíticos e charnoquitos. Na porção leste da área ocorrem os monzonitos e monzodioritos.

Esse domínio, composto por uma variedade grande de litologias diferentemente deformadas e metamorfizadas, com grande expressividade areal, apresenta diferentes comportamentos geoambientais.

O relevo apresenta-se ondulado a forte ondulado, especialmente pela influência tectônica regional, com declividades de 13 a 45%.

As características do ponto de vista agrícola são que a existência de litologias que se alteram tanto para solos arenosos como argilosos-siltosos e que se alteram de modo diferenciado, originando conseqüentemente solos residuais de muitas diferenças locais de textura e grau de pedogênese com diferentes qualidades agrícolas. Apresentam de modo geral implicações negativas para a agricultura, especialmente em função da declividade alta e da fertilidade natural baixa.

Do ponto de vista de potencial mineral, a área apresenta potencial para exploração de agregados para a construção civil, em especial pedras britadas, predominantemente os granulitos, que são considerados as mais importantes fontes de produção de agregados pela boa qualidade e fragmentação e pela localização favorável em relação ao principal centro consumidor, Salvador. Devem ser consideradas como áreas de relevância aquelas situadas na periferia de Salvador, nas proximidades da Rodovia BR 324, onde localizam pedreiras em atividade como a Pedreira Valéria, Aratu e Carangi, na bacia do rio Ipitanga.

Vista da Pedreira Valéria próximo à entrada para a Estação de amostragem A10 e paisagem local.

Imagem do satélite da localização da Estação de amostragem A10 lagos e Pedreira Valéria.

As rochas cristalinas encontram-se recobertas por extensas camadas dos sedimentos da Formação Barreiras, por sedimentos recentes ou ainda por espesso manto de alteração, daí as melhores exposições ocorrerem em fundo de vales. A existência de capeamento (que pode chegar a atingir cerca de 30 metros de espessura) sobre estas rochas constitui fator negativo à economicidade de sua exploração. Um outro fator que vem gerando problemas na região é o crescimento da ocupação urbana na direção das áreas de exploração, o que tem gerado conflitos de ordem sócio ambiental, causando inclusive desativação de algumas pedreiras.

Em termos ambientais e hidrogeológicos, o alto cristalino trata-se de uma região que vem sofrendo um desenvolvimento urbano acelerado e que demanda uso intensivo de águas das suas lagoas e aqüíferos. Por outro lado, a inexistência de redes de esgotamento sanitário e a presença de indústrias na área acarretam sérios riscos de contaminação dessas águas e, indiretamente, da saúde de sua população.


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